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Serviço de abordagem social muda a realidade de crianças e adolescentes em São Gonçalo

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Publicado em:  15/12/2017

Às 7h ele já estava de pé. Material na mochila e seguia pelas ruas do Barracão, em São Gonçalo, para estar pontualmente às 9h no centro de Alcântara. Dezessete anos, três irmãos, filho do porteiro Israel de Jesus, e da balconista Sandra de Jesus, Jonatha dos Santos fazia esse trajeto não em direção a escola, mas ao seu local de trabalho: as ruas. Película de celular, capa e fone de ouvido. Das 9h às 18h, essa era a realidade do jovem estudante, que à noite, depois de um longo dia de trabalho, se dirigia para a Escola Estadual Vila Guarani, onde faz o 1º ano do ensino médio: “Eu não tenho coragem de abandonar a escola. Os estudos nos dão uma vida digna”, disse. A história de Jonatha se assemelha a dos mais de 1 milhão de crianças e adolescentes em todo Brasil em situação de trabalho infantil. Com o objetivo de acolhê-los e garantir o acesso básico à Educação e uma infância saudável, a Secretaria de Desenvolvimento Social de São Gonçalo lançou, em junho deste ano, o Serviço Especializado em Abordagem social para Crianças e Adolescentes (SEACA).

De acordo com o mapeamento do SEACA, realizado de junho a outubro deste ano, 82% das crianças nas ruas de São Gonçalo realizam trabalho infantil. Apenas 1% por conta do uso de drogas, a maioria está nas ruas para complementar a renda em casa ou por falta de oportunidades e incentivos a outras atividades. Cerca de 70% são meninos, de 15 a 17 anos, como Jonatha, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz parte do grupo de três a cada quatro, entre crianças e adolescentes em trabalho infantil: meninos e negros.

De acordo com a legislação brasileira, a idade mínima para ingressar no mercado de trabalho é de 16 anos, desde que esteja registrado e não seja exposto a abusos e situações de violência física e psicológica. Apesar de estar na idade permitida para a prática, o jovem que atuava como camelô junto de uma vizinha, para ajudar em casa, não tinha boas condições de serviço e a longa jornada prejudicava seu rendimento escolar.

“Quando eu trabalhava, tudo era muito corrido e eu não tinha tempo de estudar. Saía de lá e ia direto para a escola à noite. Meu rendimento caiu muito”, conta o adolescente que teve sua trajetória mudada depois do encontro com a equipe de abordagem do SEACA.

Formado por educadores e assistentes sociais, o Serviço especializado realiza ações de mapeamento de crianças em situação de vulnerabilidade em toda a cidade, buscando identificar situações de abandono, negligência, abuso, exploração, situação de rua e trabalho infantil. Conversando com o Jonatha, a equipe percebeu que oportunidade era o que ele precisava. Hoje, após um processo seletivo fruto de uma parceria entre a SMDS e a Autopista Fluminense, ele realiza um curso de Eletricista de rede de distribuição de energia elétrica, no Senai, para ingressar como Jovem Aprendiz na instituição. E ele sonha além:

“Eu quero terminar os meus estudos e cursar Direito, como a minha irmã mais velha. Ela é a única da família que faz faculdade. Minha família sempre me apoiou a estudar, meu pais sempre me incentivaram. Eu já perdi muitos amigos por conta da violência, e não quero ser mais um. Quero ser juiz ou promotor e dar uma vida melhor aos meus pais. Encontrar a Angélica e conhecer esse serviço mudou a minha vida e fico muito feliz com isso”, disse.

Angélica Souza é a coordenadora do Serviço Especializado. Ela ressalta que o mapeamento é realizado a fim de compreender a realidade social de cada família, podendo assim investir nas potencialidades das crianças e adolescentes.

“O serviço se torna importante na cidade uma vez que atendemos cada caso de forma individualizada, buscando entender o contexto familiar e as razões pelas quais aquela criança ou adolescente está em situação de trabalho. A partir disso ofertamos os serviços públicos que atendam às suas necessidades. Percebemos o impacto quando essas famílias compreendem que é possível se ter muito além do que o trabalho no sinal, por exemplo. O Jonatha hoje é um exemplo disso, e ficamos muito felizes em fazer parte dessa história”, afirma.


Autor: Thayná Valente
Foto: Lucas Alvarenga
Fonte: SMDS

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